Na maratona de entrevistas e conversas sobre o transporte, conheci muita gente e ampliei de maneira significativa a quantidade de amigos e conhecidos. Um dos pioneiros que entrevistei, e virou um capítulo do livro Os Imigrantes, o Transporte e o Progresso foi João Pierotto.
A história dele me chamou atenção, porque era um comerciante e, apesar da pouca idade, tinha um negócio rentável em Caxias do Sul.
Mas, vendeu tudo que tinha, assumiu uma dívida enorme, e virou caminhoneiro. Tudo isso, movido pelo coração. Ficou consternado com a situação de uma viúva que perdera o marido em um acidente e enfrentava dificuldades financeiras, sem poder cuidar dos filhos. Comprou o caminhão, que teve de reformar, e foi para a estrada, pouco sabendo sobre transporte, a estrada ou a profissão.
Pierotto conta que certa vez dormiu em um posto de serviços, à margem da rodovia, e no dia seguinte, não sabia de qual lado tinha vindo, para qual lado tinha de ir… o remédio foi puxar assunto no café da manhã com um colega que ia para São Paulo, mesmo destino dele, e ir junto.
O caminhão comprado da viúva, que ele chamou carinhosamente de Orquestra, pois cada parada era um concerto, foi vendido muitos anos depois para dois irmãos da cidade de Bento Gonçalves. Infelizmente, houve um outro trágico acidente onde os compradores morreram. Agora estava Pierotto com uma pilha de promissórias na gaveta para receber e as prestações do caminhão novo para pagar. Mesmo assim, perdoou a dívida da viúva do comprador e seguiu em frente. Virou administrador, palestrante, um líder setorial.
Pieroto não só virou também personagem do livro, como um amigo, e estamos agora trabalhando juntos no seu próximo livro: Profissão Motorista!